81'

"(...) Fiquei pensando quem iria ler aquilo tudo. Mas, por outro lado, quem escreve não fica pensando nisso; escreve porque quer escrever. Depois, quem quiser que o leia - espera o escritor, e esperamos nós (...)". * Livro: Maria Madalena, A Mulher que Amou Jesus

31 de out. de 2009

Peter Berlin: "That Man"


Há quem acredite que o universo gay seja regido por uma infinidade de ídolos da cultura moderna que transformaram-se em ícones. Na verdade ele é. Sejam os criados para serem as “Fadas Madrinhas” – que vão desde "atrizes divas" de Hollywood até cantoras e performances – e aqueles que servem como arquétipos sexuais perfeitos: marinheiros, bombeiros, motoqueiros e por aí adiante. São inúmeras as figuras que ainda estão presentes no imaginário coletivo. De tempos em tempos eles ressurgem e reafirmam os esteriótipos que tantos gays batalham para descontruir.

Bobagem esta história de desconstruir personagens. Ainda mais da cultura do arco-íris. Foram eles que de certa forma possibilitaram se chegar até aqui e falar sem medo de ser identificado como um friendly da causa homosexual. Preconceitos a parte, nunca foi tão cool ser gay ou amigo de um!

Um ícone da cultura de qualquer movimento, seja ele político, social ou religioso é indispensável para que haja identificação e assim uma adesão maciça de quem quer que seja ao movimento. No mundo gay, existem muitos. Aqui no Brasil ainda são poucos os que realmente levantaram a voz e se sentem confortáveis em serem ícones desta “categoria tão pouco cristã”. Mas lá fora, o que não falta são personalidades e artistas tentando vincular a própria imagem aos homens que gostam de homens ou das meninas que gostam de meninas. É moderno, é rentável! Mas uma figura que surgiu nos áureos Anos 70 ganhou em 2005 um documentário sobre a sua relevância para a “causa gay”. Não, o nome dele não é Milk e ele nem é politicamente correto como o personagem do “oscarizado” Sean Penn. Não verdade ele é o que todo homem gay gostaria de ser, mas tem vergonha de assumir.



O nome desse ícone gay é Peter Berlin. Como se vê, ele é da capital Alemã, filho de uma distinta família aristocrática e causava comoção aos que cruzavam por ele pelos guetos ou bares undergrounds da cidade. Vistia-se de forma a valorizar o corpo esculpido pela malhação, encarnava literalmente a figura de todos os arquétipos que citei acima e de forma tão verdadeira que se pensava que ele fosse todos ao mesmo tempo ou então, a cada troca de roupa, dependendo do desejo de quem o admirava.

Alto, loiro, corpo escultural, “cheio de atributos” – se é que podem compreender - e  de comportamento misterioso, foi aos poucos tornando-se um mito entre os alemães. Muitos o conheciam, mas poucos conseguiam dormir com o herói perfeito de uma HQ homoerótica. Aos poucos sua fama ultrapassou os limites da Bavária e ele resolveu ganhar os EUA. Talvez inspirado pela sua conterrânea Marlene Dietrich.

Chegando na “terra prometida” do show business, aos poucos, tornou-se popular  lá também, talvez não tanto quanto na Europa, mas conseguiu chamar a atenção de Andy Wahrol, Robert Mapplerthorpe e do dançarino Rudolph Nureyev – seus fãs -  e fazer relativo sucesso pelas noites intermináveis das década de 1970. Também filmou alguns trabalhos para o cinema alternativo. Críticos diziam que ele levava jeito para a coisa, mas por vontade própria preferiu seguir os caminhos que já conhecia e que o fizera o ícone de uma era.



Peter Berlin era um fotógrafo e tanto. Produzia seus famosos auto-retratos, hoje conhecidos por todo jovem gay que se preze.  Tornou-se conhecido ao ponto de ser  convidado a criar coleções de roupas, provavelmente para abocanhar os fãs que sonhavam com ele e em ser ele. Mas se negou, disse que não queria misturar as coisas. Ainda nos EUA conheceu o grande amor da sua vida, com quem viveu 30 anos. Só não viveram mais tempo juntos por causa da morte do companheiro.

Atualmente vive em Berlim, num apartamento cheio de recordações do tempo em que se tornou imortal aos desejos masculinos. Mas ainda preserva a aparência de outrora. É possível ver que ele era o belo Peter.

Só consegui assistir ao documentário “That Man – Peter Berlin” , dirigido por Jim Tushinski, que esteve no line up do Festival de Cinema do Rio e de Cannes em 2005, graças aos avanços obtido através da Internet. Viva a tecnologia!

Fotógrafo, modelo, sex symbol e cineasta erótico. É assim, que Peter é definido no filme que conta a sua vida e traça um panorama de como tornou-se um dos mais famosos personagens daquela época. Além disso, é possível estabelecer uma linha de pensamento para entender como chegou-se até aqui, com inquestionável aumento da liberdade na cena gay, mas por vezes mais monótona e sem referências concretas do que se é.

2 de out. de 2009

Remédio para a Monotonia

                          

Nestes tempos em que enfrentamos a chatice e a caretice institucionalizada, nada melhor do que nos rendermos a arte. Parece história para boi dormir, mas talvez seja papo de um “bicho-grilo” enrustido. São nestes momentos que devemos tentar ceder à uma boa leitura, um filme daqueles que nos fazem contorcer na poltrona e  por que não se "abrir"  para as  sonoridades diferentes? E se elas tiverem uma pegada underground de boutique melhor ainda.

Ultimamente, principalmente depois da MTV passar a ter uma programação voltada para o público de Stand-Up Comedy, qualquer raio de luz criativa que nos apareça entre um clique aqui e ali, se torna uma “tsunami de satisfação” e incentivo para se ver e ouvir. Meio cansado de ter a impressão de "deja vù" na cultura Pop, a minha alegria é quando cruzo os sentidos com os nomes Yeah Yeah Yeahs e The Ting Tings, que fazem gravar os versos imediatamente nos ouvidos e repetidos facilmente pela boca, sem falar dos pés... ah, estes sim, divertem-se muito com estas duas “bandas”. Pois é, aí está! Não sei os chamo de bandas, grupos, trio ou dupla. Enfim, acho que grupo remete muito as boybands, coisa que eles não são. Então, deve ser simplesmente banda, soa melhor. Acho que sim!

                         

A norte-americana Yeah Yeah Yeahs está trabalhando duro desde 2001, teve outras dominações, foi composta por uma dupla, mas com a entrada do terceiro elemento, o estrelato veio em doses homeopáticas e em 2003, já com a atual formação – Karen O no vocal, Nicolas Zinner na guitarra e Brian Chase na bateria – gravaram o disco “Fever to Tell”, que vendeu no mundo 750.000 cópias, além de ter tido uma boa receptividade da crítica especializada. Em 2009, depois de muitos shows em festivais e alguns videoclipes, o grupo, digo, a banda lança “It`s Bitz!” e foi aí que eu os encontrei de verdade. Me apaixonei pela voz, pela jaqueta cheia de tachas e pelo corte de cabelo de Karen O em “Zero". E depois, fui “pego” com as calças na mão com “Heads Will Roll". Os dois vídeos são incríveis e não é difícil de entender porque o cruel lobisomem faz tanto sucesso nos canais que ainda exibem clipes.
                             
Formada em 2004, The Ting Tings é uma dupla – bem diferente do que entendemos por duplas aqui no Brasil – colorida, modernosa na mistura de sons e elementos da cena indie. Os ingleses Katie White e Jules de Martino que usam o rock, a eletrônica e sons experimentais para criar as suas músicas, tem também influências do Pop dos Anos 60. Em 2008, lançou o álbum “We Started Nothing” e a música “That's Not My Name" chegou as paradas de sucesso do Reino Unido, desbancando até mesmo Madonna. E tem ainda as animadas “We Walk”, "Great DJ" e "Shut Up and Let Me Go", impossível ficar longe da pista de dança. E nos clipes eles usam e abusam da estética dos Anos 80, seguindo à risca a receita do que é tendência e se associando ao termo “hype” na sua longa e evolutiva definição.

Há quem possa dizer que se festeja muito por pouco. Sim, pode ser verdade. Mas quando passamos a ver e a consumir “autenticidade e modernismo fabricado” de forma natural, é sinal de que algo precisa ser revisto. É difícil nadar contra a maré, mas a democracia dos veículos de comunicação permitem este feito. Pesquisar, ler, assistir ou ouvir atualmente passou a fazer parte do sentindo de conseguir material de entretenimento e alcançar algo genuinamente que faça valer a pena levantar e dançar a noite toda. Movimento que pode simbolizar o rompimento da dificuldade que é encontrar algo com identidade, que diverte sem a pretensão de ser sempre erudito.