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"(...) Fiquei pensando quem iria ler aquilo tudo. Mas, por outro lado, quem escreve não fica pensando nisso; escreve porque quer escrever. Depois, quem quiser que o leia - espera o escritor, e esperamos nós (...)". * Livro: Maria Madalena, A Mulher que Amou Jesus

25 de jul. de 2007

Esperar pelo Julgamento das Barcas?

Em qual barca queremos entrar? Em qual mundo queremos viver?
Tempos difíceis estes em que vivemos, não?! Parece que estamos vislumbrando prenúncios de que algo irá acontecer, uma mudança, a qual estamos com medo de ter. Tudo está exagerado. ‘Over’. Parando para analisar friamente, vivemos em uma pintura que parece de tintas frescas, vibrantes, mas a cada dia somos soterrados de outra verdade. Traçada por tintas opacas, de um triste cinza, como uma fina cortina de fumaça que nos mostra o futuro um pouco mais doloroso do que gostaríamos.

É a história do aquecimento global, da escassez ou falta da água daqui 20 anos. Do terrorismo que não mostra rostos e nem teme a morte. Da bala perdida, da violência urbana que só cresce. Da pobreza material e espiritual das pessoas. Do avanço da tecnologia e da ciência, mas ainda tão distante para a maioria da população mundial. Da corrupção política, jogos de interesses e a certeza da impunidade. Da fome! Dos trágicos acidentes aéreos e do empurra-empurra das responsabilidades. Do espancamento de trabalhadores ou ateamento de fogo em índios. Chacinas. Falta de respeito pelas diferenças. Estes são somente alguns dos elementos presentes em nossas “modernas” ou “bárbaras” vidas (?). Adversidade sempre houve, mas com tanta falta de ética ou “descaramento” parece que é uma prática recente, comum e usual. A expressão “Me desculpe” perdeu o valor. Hoje muitos acreditam que somente pedi-lo já basta para a redenção ao perdão. Ato quase impossível de se fazer hoje em dia. Pois até para perdoar o “algoz”, é preciso acreditar que ele tenha vontade de se tornar um indivíduo melhor.

Refletindo sobre os fatos que inundam noticiários sobre o abuso à paciência, lembrei-me da época do colégio, quando estudei em literatura o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, escrito no século XVI em Portugal e que trata com sarcasmo a realidade que o escritor vivia. Passado todo este tempo, voltei a lê-lo. E incrivelmente, percebi que algo de muito semelhante com o que vivemos hoje estava ali, retratado e consolidado como um fato real. Uma pena. Nestes séculos que se passaram a única coisa que evoluiu neste sentido foram como cada “falcatrua”, cada “maracutáia”, cada irresponsabilidade ganharam estratégias de guerra para contornar a justiça e a ética.

O “Auto da Barca do Inferno” é a história de uma série de pessoas que precisam chegar ao céu, mas para que isso aconteça, precisam passar pelas entrevistas de um Anjo e do Diabo. Cada um em uma barca e como você pode imaginar, os destinos são opostos. Nesta espécie de julgamento, os cidadãos serão colocados à prova a partir de suas ações aqui na Terra. Em tempos difíceis para acreditar que qualquer Lei criada pelos homens seja cumprida por todos, todos mesmo, a esperança é que as barcas existam e nos casos de “mau comportamento”, por abusar da boa-vontade, da inocência e da credulidade façam a justiça que tanto tem faltado por aqui. Enquanto a hora do chamado não acontece, tenhamos força para enfrentar de frente as mazelas que tem nos colocado perto de um colapso moral e de comodismo. Precisamos fazer algo urgente. Agora. Para ontem.

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