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"(...) Fiquei pensando quem iria ler aquilo tudo. Mas, por outro lado, quem escreve não fica pensando nisso; escreve porque quer escrever. Depois, quem quiser que o leia - espera o escritor, e esperamos nós (...)". * Livro: Maria Madalena, A Mulher que Amou Jesus

9 de mar. de 2008

A "Rainha Virgem"

Elizabeth, casou com a Inglaterra e tornou-se a "Rainha Virgem"
A fascinante vida da Rainha Elizabeth I, está de volta às telas. Uma continuação do filme produzido em 1998, traz novamente Kate Blanchett no papel da Rainha Virgem, que governou a Inglaterra por quase 45 anos. Eu sei, o novo post tem um “Q” de “déjà vu” e parece assunto recorrente, mas preciso reforçar aqui o meu fascínio por rainhas soberanas e pelo sentimento de nobreza, mesmo que questionado, eram latentes em suas decisões, tanto para o bem, quanto para o mal, se isso é possível. Há um ano, exatamente, falava de um outro filme “biográfico” sobre Maria Antonieta, rainha fashionista da França no século XVIII, e agora, aqui estou falando de “Elizabeth – A Era de Ouro”.

Relembrando, no primeiro filme, vemos a ascensão de Elizabeth ao trono, mesmo sendo considerada ilegítima para ocupá-lo; o amor impossível pelo sir Robert Dudley, as conspirações da Igreja Católica para destronar a "bastarda protestante" e o início de uma era próspera e de grande fomentação cultural, já que Willian Shakespeare era seu contemporâneo. Já neste segundo filme, a Rainha cria uma imagem quase santificada de si mesma para se firmar como absoluta. Continua a luta contra o preconceito por ser mulher e afoga sentimentos amorosos para não permitir que o seu casamento com a Inglaterra seja colocado à prova. Então, a esta altura, estando há algumas décadas governando, enfrenta problemas diplomáticos/ religiosos com a Espanha, parte para a guerra e sai vitoriosa, levando a Inglaterra ao posto de país mais poderoso da sua época. Iniciando-se assim, definitivamente a “Era de Ouro”.

Mas o encantamento com a vida da Rainha Elizabeth I já existe há alguns “bons anos”, desde que li um texto sobre ela nos livros de história do pré-vestibular. Depois assisti ao primeiro filme e não teve jeito, me rendi à ela, passei a ser um daqueles súditos que a viam como uma representação quase divina. Na minha escala de preferências, ela está em segundo lugar, só perde para a não menos famosa, Cleópatra, talvez por esta última fazer parte do meu imaginário há mais tempo. Quando viajei para Londres, visitei a Abadia de Westminster, onde ela foi coroada e enterrada, é possível visitar o túmulo e ver sobre ele uma estátua da Rainha deitada. Além de vitrais que mandou construir em seu próprio louvor. Também aproveitei para visitar o Museu de Madame Tussaud, onde existe uma estátua em tamanho real e de cera da “virgem rainha” e o que se percebe é a incrível semelhança entre a atriz e Elizabeth, sejam nos vidros coloridos, nas estátuas de cera ou nas pinturas da época, expostas nas galerias e museus do país. Acabei trazendo para o meu irmão dois painéis dela para que colorisse, pois acho que o meu subconsciente queria despertar nele o interesse por aquela rainha, não sei se funcionou, até porque a última vez que os vi, estavam intactos, quem os coloriu fui eu (!).

O que chama a atenção na biografia desta mulher que antes de tudo, claro, era humana e sensível aos erros mundanos é o sentimento de nobreza. Seja dos sentimentos íntimos e cabíveis a qualquer um, ou dos que se remetiam ao do modo de governar o país e atender os anseios do povo. Não que ela tenha acabado com as mazelas, masmorras, execuções sumárias ou conquista de territórios alheios, mas da forma grandiosa que agia e propunha acordos, com a força de uma mãe que defende a cria e das ilusões de menina inocente perante ao amor. As vontades de Elizabeth estavam acima de qualquer coisa no mundo terreno, pelo menos se portava para que isso fosse admitido.

Visualmente o filme nos apresenta um universo de cores e formas, o que desperta e agrada ainda mais o meu olhar. A Rainha da época dourada construiu uma imagem fora do comum, a pele pintada por uma espécie de base branca, que à deixava ainda mais “pura”, sem falar dos suntuosos vestidos, cintura marcada pelo espartilho, mas com saias amplas, tecidos nobres e adornos celestiais. Perucas variadas, para jantares oficiais com a nobreza ou simplesmente longos ruivos fios para a guerra. E as instalações? Frias, escuras, gigantescas e por oras, iluminadas por réstias de sol, o que acaba contrastando com a presença de Elizabeth e afirmando somente uma verdade: Ela é humana, dentro de sua pequenez sente medo, fúria, rancor, inveja e ama desmedidamente.

O diretor Shekhar Kapur promete filmar mais um longa sobre a vida da Rainha Elizabeth I, assim fechar a trilogia que assinalou ter interesse em fazer ao lado de Blanchett. E se você gosta de épicos com todos os ingredientes para boas tramas, como intrigas, romance, ação e fatos históricos, talvez este seja um bom programa. Mesmo a história estando bem mais florida do que a real, o filme está à altura de uma mulher poderosa, emblemática e inesquecível, fugindo das restrições dos anais da história.