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"(...) Fiquei pensando quem iria ler aquilo tudo. Mas, por outro lado, quem escreve não fica pensando nisso; escreve porque quer escrever. Depois, quem quiser que o leia - espera o escritor, e esperamos nós (...)". * Livro: Maria Madalena, A Mulher que Amou Jesus

14 de nov. de 2009

Coco Antes de Chanel

 
Para quem gosta de moda o filme “Coco antes de Chanel”, que estreou há algumas semanas nos cinemas brasileiros é um programa imperdível. Para as feministas também. Alguns fãs da mais famosa e bem-sucedida estilista da história torceram o nariz, mas a verdade é que o longa trata extamente da origem do mito. Nada mais! Apesar de ser o suficiente para entender como uma menina órfã de mãe, abandonada pelo pai à própria sorte e pobre, conseguiu fundar um império de sucesso e um legado de liberdade inquestionável para o corpo da mulher.

A vida pode ser dura, inimiga aos olhos de quem tem uma vontade, mas julga-se “pequeno”demais para realizá-la. Sob todas as adversidades a mademoiselle Chanel provou que é possível. Com um errinho aqui, outro ali, mas enfatizando os acertos e sendo orignal, vai-se longe.

Antes mesmo de Chanel ser Coco, ela foi uma menina chamada Gabrielle que de dia consertava roupas de madames e a noite ganhava uns trocados em cabarés ao lado da irmã, cantando sempre uma canção popular onde o protagonista dos versos era um cachorrinho chamado Coco, por isso o apelido. Em uma noite conheceu um homem que começou a lhe dar novos recursos para alinhavar a vida. Ela não contentava-se em ser apenas mais uma garota exposta aos desmandos dos homens.
 
Passou a morar com que este “amor” e a frenquentar as grandes rodas da sociedade francesa. Mas não cedia à moda usada e aclamada pela Belle Époque. Via nas figuras femininas da sua época bolos confeitados, jardins suspensos da Babilônia. No fim do século XIX e início do XX, o exagero era norma para se vestir. É aí que surge Chanel, que passa a se apropriar e adaptar peças do guarda-roupa masculino, causando estranheza,  no início, o que mais tarde se confirmou como a grande “sacada” da sua famosa maison.

Entre tantas pessoas que circulavam entre o seu convívio, não seria novidade ela ter se apaixonado por um jovem “lorde inglês” afortunado financeiramente e dotado de charme reconhecidamente eficaz. Dizem que sim, que este o foi o seu grande amor. No filme se afirma que ele não tinha vergonha de exibi-la com os seus figurinos exóticos e modernos. Foi ele que viu em Chanel a genialidade nata. Mesmo vivendo grandes paixões, Coco nunca casou-se.

O mau humor, as respostas ácidas, a inconformidade com a vida que a mulher levava naquela época, estão nos diálogos do filme e traçam como era a conhecida personalidade da estilista. Sabe-se que a maison abriu as portas e os arquivos para que a atriz Audrey Tautou e a diretora Anne Fontaine pudessem se aprofundar no universo de Chanel.
                       
O filme é importante para “reavivar” como as mulheres se vestiam, se comportavam. E o mais importante, nos leva a uma pergunta simples, mas fundamental para entendermos o que se vive na democrática fantasia fashionista: Como estariam as mulheres se vestindo e se comportando atualmente se não fosse Coco Chanel? Eu, particularmente, arrisco dizer humildemente que não sei responder!

Deve-se à ela o abandono dos espartilhos – lindos estéticamente, mas carrascos para a saúde e o conforto; o "pretinho" básico -  tirou do limbo a cor que antes só era usada como figurino fúnebre; os tailleurs; as bolsas matelassê e; os sapatos clássicos bicolores. Além da simplificação dos chapéus, de chemisier que leva no DNA a camisa masculina; os cardigãs e os famosos twin sets – conjuntos de casaco e suéter de tricô ; as calças largas inspiradas nas dos marinheiros. Ela também usava as suas próprias criações como as capas de chuva com cinto, as camisas simples de gola aberta, blazers e abusava das cores beges, azul-marinho, cinza e costumava dizer que se uma mulher usasse branco e preto no mesmo look, não passaria despercebida!

Seria redundante dizer que ela vislumbrou quem seria a mulher contemporânea. E se ainda resta alguma dúvida a respeito do que representou Chanel é só lembrar que poucas pessoas no mundo criaram tantos ícones em torno do seu próprio nome, seja ele repesentado por um tipo de corte de cabelo, por um modelo de bolsa, sapato ou pelo perfume mais vendido no mundo e que leva o simples nome de Chanel N° 5. Prova de que a moda em alguns casos ultrapassa as frivolidades do comprar, ostentar e do vestir… pode ser mais,  muito mais.