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"(...) Fiquei pensando quem iria ler aquilo tudo. Mas, por outro lado, quem escreve não fica pensando nisso; escreve porque quer escrever. Depois, quem quiser que o leia - espera o escritor, e esperamos nós (...)". * Livro: Maria Madalena, A Mulher que Amou Jesus

5 de mai. de 2007

Senhora, perdoai! Eles não sabem o que dizem...

A Nossa Senhora de Pirre & Gilles
A Fé tornou-se há muitos séculos um dos principais pilares da sociedade organizada. Independente da geografia, das etnias ou dos deuses, a religião une e separa pessoas que em nome de uma ‘Divindade Suprema’ estabelecem padrões de comportamento. Para muitos as ‘Leis Divinas’ são mais importantes do que as criadas pelos homens. Sem pontuar qual merece verdadeiro reconhecimento em minha opinião, vejo que quando equilibradas podemos vislumbrar o que chamamos de responsabilidade e respeito ao livre-arbítrio. Diferente do que já vimos na história, onde igreja e estado foram um só. Resquícios desta herança ainda podem ser encontrados em alguns países da atualidade. Realidades Medievais (?).

Desde que o cristianismo tornou-se uma das religiões de maior expressão no mundo, nos deparamos com muitos conflitos internos sobre quem somos, quem queremos ser e quem Deus espera que sejamos. No entanto, ficamos presos a antigos dogmas e por vezes o ceticismo nos toma conta porque não conseguimos mais responder a tantas perguntas. E um verdadeiro caos se faz presente. A Fé deveria libertar, amparar, confortar, mas ainda vejo referências da Idade Média nas notícias que leio sobre as declarações do Papa e logo do Vaticano. Visões do mundo que congelaram no tempo. Visões do mundo que não são o real. A igreja permite que sejamos reféns dos nossos próprios medos.

No dia 09 de Maio, chega ao Brasil o Papa Bento XVI. A Fé católica renova-se apesar de pesquisas indicarem que o número de fiéis brasileiros diminuiu nos últimos anos e o de evangélicos ter aumentado. Pelo país todo, pessoas se organizam para ver o líder da igreja católica na sua visita ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida (SP) e assistir a canonização de Frei Galvão. Mas esquecem das palavras de repúdio do pontifício perante certas questões atuais e de extrema importância para o mundo. Uma delas é condenar o uso de preservativos quando o HIV é epidemia em muitos países, ou causando a gravidez precoce de muitas meninas. Excomungar fiéis porque resolveram ser felizes em um segundo, terceiro casamento, também mostra que às vezes as penitências para manter um relacionamento podem ter qualquer valor, até o de perder a Fé por dias melhores. Se opor e negar que ‘ser gay’ é tão normal quanto beber um copa d'água é um assunto que passa longe dos significados das palavras respeito e tolerância. Expressar a falta de sensibilidade quando fala de outras religiões e crenças é algo impensado por acreditar que este seja o ‘homem de Deus’. Acreditar que exista uma só verdade comprova que é homem feito do mesmo barro de tantos outros. Abrir os olhos e ver que o mundo mudou pode ser doloroso quando se passou séculos trancafiado em leis criadas por pessoas como eu ou você, indefesas perante os próprios erros. Alguns admitem e tentam corrigir, outros preferem levar adiante conceitos já caídos.

Em nome da Fé foram cometidos muitos erros, muitas atrocidades. Ouvimos isso inúmeras vezes durante a nossa existência. Vejo e tento entender que o meu Deus é o mesmo daquele crédulo do outro lado do mundo que adora Shiva, Budha, Allah, El, Jeová ou Cristo. A vida segue com os seus mistérios. Mas peço à Mãe de todas as Mães, Nossa Senhora, que na sua infinita bondade perdoe, porque eu, eles, nós – não sabem o que dizem. E acredito que um dia a Fé seja a redenção para um mundo melhor, mais compreensivo, onde ser feliz não se torne o fruto proibido de uma árvore enraizada e velha, tão antiga quanto a fundação de muitas igrejas.
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