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"(...) Fiquei pensando quem iria ler aquilo tudo. Mas, por outro lado, quem escreve não fica pensando nisso; escreve porque quer escrever. Depois, quem quiser que o leia - espera o escritor, e esperamos nós (...)". * Livro: Maria Madalena, A Mulher que Amou Jesus

14 de mar. de 2009

Quem quer ser um Milionário?

As alternativas são: a) Dinheiro b) Sorte c) Trapaça d) Destino. Estes elementos permeiam o roteiro do filme “Quem quer ser Milionário?” - em inglês “Slumdog Millionarie” . E eu não poderia deixar de comentar o grande vencedor do Oscar em 2009. A primeira relação que faço desta “fábula moderna”, que se passa em Bombaim, na Índia, é que ela tem muito mais a ver com a vida real do que aparenta. Diria na verdade, que tem muito da luta quotidiana de milhões de indivíduos. Desde a pobreza e a crueldade do espírito humano até o amor verdadeiro, daquele que nunca se esquece. Da pobreza financeira até a chance de tornar-se um milionário idolatrado por uma legião de fãs. Ingredientes que formam a mistura da sociedade hoje em dia, que resume –se em entretenimento e veracidade.

O longa-metragem que conta a história de um jovem favelado, órfão, que teve todas as chances de se “desvirtuar”, mas que conseguiu vencer não só um programa de perguntas e respostas, aos moldes do nosso conhecido “Show do Milhão” do apresentador Silvio Santos, como o das adversidades que a vida nos impõem, tem como cenário o caos de uma metrópole colorida, barulhenta e pobre, com milhões de pessoas vivendo em condições precárias nos cinturões de barracos.

A história se passa em dois momentos: Enquanto Jamal passava pelas etapas do programa vencendo as alternativas falsas, surgiu a dúvida se ele não trapaceava, como poderia um favelado que servia chá em um callcenter ter chegado tão longe? O então protagonista, foi submetido a sessões de tortura, interrogado por horas, antes de disputar a pergunta final, que lhe faria um milionário. Durante este tempo sob os “cuidados” da polícia, lembrava através de flashbacks como sobreviveu e como aprendeu as respostas para as perguntas feitas pelo apresentador sarcástico do programa de Tv.

São nestes flashbacks que conhecemos a beleza e a dureza da Índia. O irmão que mistura o heroísmo e o antagonismo. A perda da mãe. A descoberta do amor pela bela Latika. A industria da esmola. A máfia que usa da prostituição para se sustentar. Como em todo o país subdesenvolvido, a beleza trava duelos com o lado sombrio que a desigualdade desperta.

Dirigido pelo mesmo cineasta do filme “A Praia”, o qual também adoro, Danny Boyle, conseguiu transformar uma produção barata, aos olhos e cofres de Hollywood, que custou US$ 15 milhões em um dos filmes mais vistos e comentados nestes primeiros meses do ano, com um lucro de US$ 115 milhôes. Só no Brasil, as pré-estreias tiveram a grande maioria dos ingressos vendidos, espera-se que mais de 1,5 bilhões de brasileiros o vejam.

O diretor buscou referências na indústria cinematográfica de Bollywood, produto que tem ganhado popularidade no mundo inteiro pelas histórias de amor adocicas, números de danças e pelas mistura de cores, algo fundamental falando-se da Índia. Os atores que trabalharam no filme fazem parte deste fenômeno.

Alguns críticos torceram o nariz para o filme, como sempre. Afirmam que existe muito do brasileiro “Cidade de Deus”, nas seqüências na favela. Outros dizem que usam da pobreza do país indiano para contar histórias. Críticas à parte, é inegável que a Índia esteja na moda. Seja por causa de uma mulher que ama um homem de uma casta inferior a dela, na novela “Caminho das Índias”, aqui no Brasil, ou pelo filme “Quem quer ser um Milionário?”, que abocanhou 66 prêmios ao redor do mundo. Prova disso, foi o convite de Woddy Allen à Freida Pinto, a Latika, para estrelar o seu próximo filme e os contratos que assinou com empresas consolidadas no setor de cosméticos.

A trilha sonora de “Slumdog Millionaire” é outra peça fundamental para contar a história do filme. E o final não poderia ser mais apropriado, termina com o encontro do casal em uma estação movimentada de trem, no melhor estilo happy end, dançando com a multidão no estilo Bhangra.

E a resposta correta para as quatro alternativas inclusas no início do filme e que usei no início do post é: letra d) Estava Escrito. Caso não acredite ou não goste desta forma de encarar a vida, pode ficar com aquela: A vida é feita de escolhas, que no final das contas, sinceramente, dá no mesmo. Façamos por onde!