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"(...) Fiquei pensando quem iria ler aquilo tudo. Mas, por outro lado, quem escreve não fica pensando nisso; escreve porque quer escrever. Depois, quem quiser que o leia - espera o escritor, e esperamos nós (...)". * Livro: Maria Madalena, A Mulher que Amou Jesus

14 de abr. de 2006

Os Radiantes

Apolo e Jacinto: Tela de Jean Broc

Quem são os Radiantes de hoje? Pergunta difícil de responder, não é?! Acredito que o pensamento grego em sua incrível sabedoria, pode responder parcialmente certas dúvidas da sociedade moderna ou então poderá mostrar caminhos para que possamos entender como chegamos até aqui.

Radiante na mitologia grega era o “pseudônimo” do deus Apolo. Como deus, representa o Sol, as Artes, a Profecia e é considerado exímio arqueiro. Ele tem luz própria, arquétipo de homem, sempre representado jovem, sem barba, belo, porque o Sol não envelhece. Em seu templo, em Delfo, visualiza-se as gravações “Conheça-te a ti mesmo... e... Nada em Excesso”. Mas Apolo apesar de divino possuía sentimentos como outro mortal qualquer, o que justificava as suas punições cruéis e o quanto ele era capaz de ter ações em forma de vingança.

Apolo possui inúmeros romances, Dafne, Cassandra, Corinis, mulheres para quem doou amor e poderes, mas não encontrou nelas sentimentos que correspondessem as suas angústias. Mas foi em um jovem grego mortal, chamado Jacinto que Apolo encontrou o amor que tanto procurava. O Radiante perdidamente apaixonado passou a acompanhar o rapaz em suas tarefas diárias, levava a rede quando ele pescava, conduzia os cães quando Jacinto caçava, seguia-o em suas excursões pelas montanhas, vivia um amor pleno. Até que em certo dia, enquanto divertiam-se jogando discos, Apolo impulsionou o artefato com força e velocidade, que inexplicavelmente saltou no chão e atingiu Jacinto na cabeça. Com um corte profundo, o jovem amante caiu aos pés de Apolo que sem cor nos lábios pelo susto tentou socorrê-lo sem sucesso. “Moreste... Jacinto” - exclamou o deus com a voz tomada pela tristeza da perda inesperada – “Roubado por mim de tua juventude, o sofrimento é teu, e meu o crime. Pudesse eu morrer por ti! Como, porém, isto é impossível, viverás comigo, na memória e no canto. Minha lira a de celebrar-te, meu canto cantará teu destino e tu te transformarás numa flor gravada com minha saudade”.

Enquanto Apolo falava, o sangue de Jacinto escorreu pelo chão e manchou a erva que o cobria. Uma flor de um colorido belo, púrpuro, semelhante ao lírio, ali nasceu. Mas isso ainda era pouco para representar o seu amor por Jacinto, então, o deus escreveu nas pétalas “Ai Ai”, como até hoje se vê.

Baseado nessa história que é contada ao longo dos séculos, onde a palavra preconceito, intolerância ou julgamentos de certo ou errado não permeiam a sua essência, é que surge este espaço que servirá para estabelecer discussões e novas formas de exercitar o pensamento sobre o que está acontecendo conosco. Estamos caminhando para uma evolução tecnológica e cientifica como nunca visto antes. Mas, e a alma, e a mentalidade e a racionalidade tem acompanhado estes passos largos que a humanidade tanto se orgulha? Através de todas as formas possíveis de expressão este “cyber universo” será o retrato de um indivíduo que por algum motivo está presente neste momento, vivendo no mesmo tempo que o seu, com os mesmos medos, dúvidas, vontades e “fomes”.