81'

"(...) Fiquei pensando quem iria ler aquilo tudo. Mas, por outro lado, quem escreve não fica pensando nisso; escreve porque quer escrever. Depois, quem quiser que o leia - espera o escritor, e esperamos nós (...)". * Livro: Maria Madalena, A Mulher que Amou Jesus

25 de mar. de 2010

O 'Ziringuidum' de Sasha Fierce


Desde que a cantora americana Beyoncé declarou à imprensa que no momento em que sobe ao palco, uma força estranha e poderosa toma conta do seu corpo, voluptuoso por natureza, comecei a achar a sua trajetória mais interessante. E logo percebe-se sob o efeito da adrenalina e da energia do público, que o rebolado e as “zilhões” de caras e bocas já não pertencem mais à meiga e educada menina do Texas, mas sim ao alter ego chamado Sasha Fierce.

Tamanha é a força deste alter ego sobre Beyoncé que o ultimo CD lançado em 2009, leva o sugestivo nome “I Am… Sasha Fierce”. Neste trabalho, todo gravado em estúdio e recheado de músicas inéditas, a nova “Diva” da cultura negra apresenta dois discos, claramente divido pelo ritmo. Um é frenético, no qual Sasha mostra-se abusada, cheia de ginga e conclama as mulheres a cantarem “Single Ladies”. Já no outro, Fierce mostra que tem coração e deixa a porção "Miss Jay-z" aparecer de vez em quando. As músicas são românticas, baladas perfeitas para dar liga ao já conhecido R&B que “Honey B” tanto sabe explorar.

O fato é de que sem Sasha Fierce, Beyoncé não teria metade do seu encanto. E isso ficou comprovado nos shows que a cantora fez no Brasil. É tanto “bate-cabelo”, tanto rebolado, tantas notas vocais quase inatingíveis que seria quase impossível não perceber que ao lado da bela “Beyonça” – assim chamada carinhosamente em terras brasileiras pelo vídeo de “Sweet Dream” e talvez por ter um “Q” de felina em suas performances – existe uma “entidade” voraz por amor, seja ele dos seus fãs/ súditos ou pelos “caras” impossíveis e inatingíveis dos quais é uma vítima/ predadora.

No show o que se via era uma jovem mulher dona de si e do palco. Tinha a platéia na mão, assim que começou a cantar “Naught Girl” e "Crazy in Love", seus grandes sucessos, suprimiu qualquer dúvida aparente sobre o que é evidente: Ela não faz sucesso a toa! Depois trocou “olhares 43” com quem  se empurrava para vê-la de pertinho, até parou no meio de uma das músicas para autografar um pedaço de papel, devolvendo-o para a fã… conversou com o público por várias vezes, cantou “Happy Birthday” especialmente para uma tal de Roberta que estava no gargarejo, além de apertar muitas mãos entre o palco principal e o que ficava no meio da arena. Olhava para a arquibancada e falava: “Filho, eu posso ver você!” – será que era alguma espécie de herança trazida da Igreja Batista, da qual Beyoncé foi corista na infância?


A carreira de Beyoncé é crescente, mesmo que alguns a achem comercial demais, sexy demais, superficial demais. Mas tem conseguido êxito vendendo milhões de discos no mundo. Tem conquistado aos poucos o respeito na disputada indústria cinematográfica de Hollywood. Chama a atenção no mundo da moda – muitas vezes para o mal - e tem importantes projetos sociais para meninas carentes. Até o casamento com o produtor e rei dos rappers parece ser feliz e sólido. Discreta, raramente ouve-se algo sobre sua intimidade. Escândalos vindos das suas bandas? Só quando resolve cantar e rebolar na festa de um marajá árabe acusado de ter uma ficha longa de contravenções.

Beyoncé poderia ser intitulada como a “Miss Simpatia” do show business, mas foi considerada pela Billboard - bíblia da música e das paradas de sucesso – como o grande nome da atualidade em termos de entretenimento. Ela poderia ter ainda outros títulos, mas prefere fazer duetos em clipes de sucesso com Shakira, Lady GaGa, Alicia Keys e em apresentações ao vivo com Prince, Tina Turner e George Michael. Sasha Fierce oferece o ziringudum, Beyoncé é a máquina que viabiliza todo o delírio imaginado por este “ser” que a habita.